ATA DA TRIGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 18.11.1997.
Aos dezoito dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa
e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e dezesseis minutos, constatada a
existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os
trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Associação
Satélite-Prontidão, pelos seus noventa e cinco anos, nos termos do Requerimento
nº 240/97 (Processo nº 2980/97), de autoria do Vereador Paulo Brum. Compuseram
a Mesa: os Vereadores Isaac Ainhorn e Reginaldo Pujol, respectivamente, 1º e 2º
Vice-Presidentes da Câmara Municipal de Porto Alegre; os Senhores Edison Garcia
Cavalcanti e Nilo Feijó, respectivamente, 3º Vice-Presidente e Presidente do
Conselho Deliberativo da Associação Satélite-Prontidão; a Senhora Neusa Gomes,
representante do Grupo Miss Güela - Grupo de Mulheres Negras de Porto Alegre; o
Senhor Wilton Araújo, ex-Vereador e ex-Presidente deste Legislativo; o Vereador
Paulo Brum, 1º Secretário da Casa. Ainda, como extensão da Mesa, foram
registradas as presenças dos Senhores Ermínio Cruz, Luiz de Oliveira Dias e
Jorge de Oliveira, respectivamente, Vice-Presidente, 1º Secretário e Membro do
Conselho Deliberativo da Associação Satélite-Prontidão, e das Senhoras Ermínia
Neves e Anete Prates da Silva, do Grupo das Mulheres Negras de Porto Alegre. Em
prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à
execução do Hino Nacional, e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que
falariam em nome da Casa. O Vereador Nereu D'Ávila, em nome das Bancadas do
PDT, PT, PTB, PPB, PSDB, PMDB e PPS, manifestou-se acerca da importância das
atividades que vêm sendo realizadas há noventa e cinco anos pela Associação
Satélite-Prontidão, defendendo a tomada de decisões políticas que viabilizem
maior participação do negro na sociedade atual. O Vereador Carlos Garcia, em
nome da Bancada do PSB, discorreu sobre a história da fundação da Entidade hoje
homenageada, analisando os projetos por ela mantidos, voltados ao aprimoramento
cultural e desenvolvimento sócio-econômico do Município e do País. O Vereador
Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, ratificando os pronunciamentos
efetuados pelos Vereadores Nereu D'Ávila e Carlos Garcia, destacou a justeza da
presente solenidade, tendo em vista o papel político e social assumido pela
Associação Satélite-Prontidão. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra
ao Senhor Nilo Feijó, que, em nome da Associação Satélite-Prontidão, agradeceu
a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou
os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Riograndense e, nada mais
havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e trinta
e um
O SR.
PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Damos por abertos os trabalhos da 30ª Sessão Solene,
que foi proposta, em conjunto, pelos Vereadores Paulo Brum e Nereu D’Ávila.
Esta Sessão tem por objetivo
homenagear os 95 anos da Associação Satélite Prontidão. É uma satisfação para
Casa promover esta homenagem a uma Associação que já se constitui numa
instituição da Cidade de Porto Alegre, num patrimônio de nossa Cidade e temos
em relação a ela, por toda sua história em defesa das raízes da negritude, um carinho
muito especial. A Associação Satélite-Prontidão está ligada a inúmeros fatos e
momentos que dizem respeito à história de Porto Alegre, por isso a nossa
satisfação em presidir os trabalhos desta Sessão.
Convidamos para integrar a
mesa o 3º Vice-Presidente da Associação Satélite-Prontidão, Sr. Edson Garcia
Cavalcanti; o Presidente do Conselho Deliberativo, Sr. Nilo Feijó. Convido,
também, para integrar a mesa a Sra. Neusa Gomes, que representa o Grupo Miss
Güela, Grupo de Mulheres Negras de Porto Alegre; o Ex-Vereador e Ex-Presidente
desta Casa, Wilton Araújo, que por três legislaturas exerceu o mandato de
Vereador desta Cidade.
Convido a todos para
assistirmos, em pé, à execução do Hino Nacional.
(É executado o Hino
Nacional).
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Nereu D' Ávila está
com a palavra. Fala como proponente da homenagem e pelas Bancadas do PDT, PT,
PTB, PPB PSDB, PMDB e PPS.
O SR. NEREU D'
ÁVILA: (Saúda
os componentes da Mesa.) Senhoras e Senhores convidados. Desejo apresentar um
agradecimento especial ao Ver. Paulo Brum que, aliás, me incumbiu de falar em
seu nome e no de sua Bancada. Tendo em vista que este Vereador já havia ocupado
a sua cota de homenagens, o Ver. Paulo Brum se dispôs a homenagear, juntamente
com este Vereador, a Associação Satélite- Prontidão.
Quero registrar que no
início deste ano o Sr. Aneron Fagundes Gomes, meu amigo há muitos anos,
solicitou que eu realizasse esta homenagem e procuramos viabilizar, com a Mesa
da Casa, a efetivação da mesma.
É muito importante para nós
a realização desta Sessão, inclusive dentro das comemorações da Semana do
Negro. Foi escolhida pela comunidade negra a data de 20 de novembro como data
símbolo de Zumbi, data escolhida democraticamente e não imposta, respeitadas as
circunstâncias históricas.
No início do século a
Associação Satélite- Prontidão iniciou suas atividades. Convenhamos que é
importantíssimo para a cidade de Porto Alegre e para o Rio Grande do Sul o
quase centenário do Satélite Prontidão. Então, esta Casa se sente honrada e reverencia
esses 95 anos de trabalhos prestados e de representatividade.
No início do século, quando
foi fundada em 1902, eu imagino as dificuldades e as discriminações que
enfrentaram aqueles pioneiros ao criarem uma associação, dado que estávamos
recém saídos de um processo de sofrimento e de grandes vicissitudes para a raça
negra. Deveríamos reverenciar, neste momento, também, os pioneiros fundadores
do início do século, que foram seguidos pelos componentes da Associação e que
ao fim deste século recebem com todas as galas, todas as solenidades, a
homenagem desta Casa.
Eu confesso que, através da
minha participação no movimento afro, principalmente na religião, venho, cada
vez mais, me sensibilizando e me conscientizando não só da importância do negro
na história do Brasil, porque é matéria ultrapassada, mas de termos mais e mais
representantes, como ao longo do tempo tiveram, mas não o suficiente, para
mudar certas questões fundamentais que ainda não foram mudadas.
Outro dia esteve aqui o
Senador Abdias Silva, que ocupou a cadeira de Darci Ribeiro, que morreu no
início do ano, e o Abdias, coincidentemente, é do nosso Partido, do PDT. Ele
morou no exterior, sendo professor universitário, tem uma consciência muito
forte, inclusive tem livros publicados a respeito da situação do negro. Há
poucos dias proferiu uma palestra, por ocasião de um seminário de umbanda e
cultos afro-brasileiros, eu estava presente, e pronunciou-se com bastante
vigor. Depois eu pude questioná-lo dizendo que teríamos que passar da fase
discursiva para a fase de proposições, que teríamos que encetar um corte na
legislação e nas questões, para um avanço real, para não ficarmos repetindo
algo que nós já sabemos há bastante tempo.
Eu sugeri ao Senador Abdias
que fizesse como a Deputada Marta Suplicy, que, em relação à mulher, conseguiu
determinados avanços, não só participando de leis, de discussões, como o
aborto, mas também da lei das quotas, que concede à mulher, nas listas de
candidaturas, a ampliação para 25%. Eu sugeri ao Senador que fosse também no
Senado, como a Deputada, e que propusessem quotas também para os negros porque,
com todo o respeito às mulheres, mas creio que o negro precisa mais de quotas,
como foi feito nos EUA, para não só participar de eleições, mas também se querem
abrir lugar na sociedade, outras participações asseguradas em concursos em
situações em que antes de participar já está em inferioridade.
Creio que é por aí que temos
que partir para essa luta. O exemplo dos Estados Unidos é concreto. Os negros
lá não teriam o poder que têm hoje se não lhes fosse aberta na sociedade a lei
das quotas, como hoje está sendo aberta para as mulheres no Brasil. Essa é a
sugestão que dei a ele, e temos, com outras idéias que surgirão, que passar da
fase meramente laudatória, discursiva e parlamentar para seccionar com leis e
proposições. Os excluídos estão, na maioria absoluta, na raça negra, e as
prisões estão cheias, porque eles recebem um maior tributo de culpabilidade
mesmo antes de serem julgados, que assumamos definitivamente uma proposta clara
e inequívoca de que queremos que eles participem e lhes abram essa oportunidade
concretamente.
Essa é a saudação dos 95
anos de uma associação que tem honrados suas tradições em Porto Alegre da
convivência do negro que se passe a essas ações mais concretas.
Que o Poder Legislativo possa abrir suas portas, recebê-los e vocês levem aos demais da Associação Satélite-Prontidão, e que continuemos abraçados nessa grande causa. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE
(Reginaldo Pujol): Quero citar como extensão da Mesa o Vice-Presidente da entidade, o Sr.
Ermínio Cruz, a Sra. Ermínia Neves, a Sra. Anete Prates da Silva, ambas do
Grupo das Mulheres Negras de Porto Alegre; o 1º. Secretário da Associação, Sr.
Luiz de Oliveira Dias; o Conselheiro e Membro do Conselho Deliberativo, Sr.
Jorge de Oliveira e demais pessoas que nos prestigiam com as suas presenças.
Com a palavra o Ver. Carlos Garcia, que falará em nome da sua
Bancada, o Partido Socialista Brasileiro.
O SR. CARLOS
GARCIA: (Saúda
os Componentes da Mesa.) Queremos agradecer ao Ver. Paulo Brum por oportunizar
que venha a esta Casa a Associação Satélite-Prontidão. Depois, ao longo da
nossa fala, nós vamos ver porque "de Prontidão", A Associação está
comemorando, neste ano, 95 anos.
A Associação
Satélite-Prontidão surgiu da fusão das sociedades: Sociedade Satélite
Porto-alegrense, fundada em 20 de abril de 1902, hoje, no Bairro Cidade Baixa.
Infelizmente, outros dados históricos sobre esta sociedade perderam-se na
enchente de 1941.
A Sociedade Recreativa
Beneficente Prontidão foi fundada em 01 de março de 1925, nas proximidades da
Praça Garibaldi, Bairro Menino Deus. O nome Prontidão foi sugerido por jovens
de poucos recursos financeiros que, quando convidados para festas, diziam estar
em prontidão, como soldados em posição de sentido e, por isso, o nome desta
sociedade. Para seu divertimento fundaram o cordão carnavalesco chamado
Prontidão, mais tarde deu origem à Sociedade Recreativa Beneficente Prontidão.
A Sociedade
Satélite-Prontidão atualmente está localizada na Av. Cel. Aparício Borges, na
Glória. É voltada ao aprimoramento cultural do povo e desenvolvimento
sócio-econômico do Município e do País. Atualmente, mantém o projeto Zumbi,
Curso Pré-Vestibular para jovens carentes, possui curso de ginástica para
jovens e para a terceira idade. No setor esportivo destacam-se escolinhas de
futsal infantil, para jovens e adultos e o master - o master está presente,
aqui, hoje; voleibol masculino e feminino e o curso de capoeira.
É uma associação declarada
de utilidade pública, por lei municipal e como o Ver. Nereu falou a sua
festividade máxima é no dia 20 de novembro com a entrega do troféu Zumbi que é
destinado a pessoas de elevada probidade, vivência, trabalho e obras
beneméritas com a comunidade afro-brasileira. Seu quadro é de aproximadamente
1.205 sócios e conta como principal sustentáculo com o seu Conselho
Deliberativo que é constituído de ex-presidentes e vice-presidentes que
gostaria de homenagear e citar: Ulisses Figueiró, Herminio da Cruz, Edson
Cavalcante, Francisco Fontoura, Carmem Fontoura, Luis Oliveira Dias, Aristolino
Wolitz, Elói Dias dos Anjos e ressalto o Sr. João Costa, o mais antigo
associado e a Sra. Stela Carvalho Costa, primeira secretária feminina.
Em homenagem póstuma cito
alguns presidentes que muito se doaram a esta instituição: Cincinato de
Oliveira Filho, Aldo Gomes e Edgar Wilson Ferreira de Souza.
Também gostaria de
homenagear os ex-presidentes contemporâneos: Nilo Feijó, Raimundo Pinheiro da
Silva, José Aneron Fagundes Gomes, Alberto Chaves, e seus dois atuais
Presidente e Vice-Presidente, Rubem Canabarro e Edson Cavalcanti. Também queria
homenagear os músicos, Dorival, Neusa, Belchior, André, Ênio do Cavaco e o
nosso poeta Vilson Nei que fazem aquelas noites maravilhosas, principalmente,
às sextas-feiras, a partir das 22 horas. Vou quebrar um pouquinho o protocolo,
mas também gostaria de homenagear a Neusa, representando as mulheres negras, o
Grupo Miss Güella, que tem como Presidente Suralha Chagas e algumas componentes
como a Eva, Ermínia, Eli, Almerinda, Anete, Elizabeth, Nanci, Neusa, Nilva e
Marlene. Esta é uma Sociedade que veio para marcar e tem o seu posicionamento
firme dentro da sociedade, não só porto-alegrense, como gaúcha. Eu gostaria de
homenagear o principal líder da epopéia negra brasileira - Zumbi dos Palmares.
Muito obrigado
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra, pela
Bancada do PFL.
O SR.
REGINALDO PUJOL: (Saúda os integrantes da Mesa.) Sr. Presidente, Srs. Vereadores. Meu
caro amigo, Ex-Vereador e Ex-Presidente desta Casa, Wilton Araújo, a quem eu
dedico uma saudação muito especial, eis que, sabidamente, esta solenidade se
desenvolve dentro da Semana da Consciência Negra.
A Semana da Consciência
Negra foi instituída, nesta Cidade, por lei por iniciativa do nosso ex-Colega
que, deliberadamente abdicou de ter um espaço nesta Casa, pois não quis
concorrer a reeleição para um novo mandato que, certamente, lhe seria conferido
pela comunidade porto-alegrense, tendo em vista o excelente desempenho que teve
nos vários mandatos que aqui esteve. Além dessa biografia tão positiva, o fato
de ser herdeiro de uma das melhores tradições que o Legislativo de Porto Alegre
pode apontar e prematuramente ceifada o meu eterno companheiro Witon Araújo.
Caros amigos, ilustres
representantes da Entidade, certamente, os dois belos pronunciamentos que me
antecederam e da lavra do Ver. Nereu D'Ávila que muito lutou para que esta
Sessão Solene se realizasse e que veio a se realizar pelo desprendimento do
Ver. Paulo Brum, presente neste momento aqui, no Plenário, e a quem desejo
render essa homenagem.
Depois da erudição do Ver.
Nereu D'Ávila, discorrendo sobre a Associação e o que ela significa dentro do
contexto sócio-econômico da Cidade, resta a manifestação do Ver. Carlos Garcia,
repontando, aos seus primórdios histórico da Satélite- Prontidão quase
dispensaria um novo pronunciamento. Eu poderia, certamente, com toda a tranqüilidade
dizer: Eu subscrevo os pronunciamentos que já ocorreram e faço deles as
palavras do Partido da Frente Liberal, Partido que represento nesta Casa.
Reconhecendo tudo isso, por
que venho à tribuna? Porque eu entendo que exaltar uma Entidade que por noventa
e cinco anos cumpre com as suas finalidades é um fato que não pode deixar de
ser confirmado pelo Legislativo de Porto Alegre. Afinal de contas, ao longo
desses noventa e cinco anos, quase um século, várias entidades surgiram em
Porto Alegre, com as mais relevantes finalidades, e não resistiram às
dificuldades que o tempo foi apresentando e que hoje se caracterizam na chamada
globalização da vida social, com os meios de comunicação restringindo, cada vez
mais, o lazer e a convivência à famosa telinha. Essas entidades não resistiram
a tudo isso.
A Porto Alegre que nós
conhecemos de quarenta anos atrás, quando mal abandonamos as calças curtas e
viemos de Quaraí, era diferente da Porto Alegre em que hoje nós vivemos. Esse
relógio, por exemplo, não seria de tamanha pontualidade como é nos dias atuais,
que, inflexivelmente, nos alerta que nós nem começamos e já estamos concluindo.
Mas, ainda que limitados no tempo, insistimos em colocar algumas palavras que
traduzem o nosso sentimento pessoal com relação à Associação Satélite-
Prontidão.
Na verdade, nós pensamos, às
vezes, na euforia de que o Brasil é o País dos mulatinhos - que são exaltados
quando os nossos heróis futebolísticos conseguem os grandes lauréis que tanto
encantam a sociedade brasileira -, que algumas coisas que no passado
justificaram a luta de Zumbi e de outros tantos, são páginas viradas da
história. E isso não é verdadeiro. O mundo ainda guarda alguns resquícios dessa
situação tão negativa que os séculos anteriores registraram e que ainda hoje se
fazem sentir nas Mauritânias, onde, apesar de a legislação declarar o
contrário, na prática, nós temos a repetição de atos colonialistas, que
diminuem o valor humano das pessoas pela escravidão, pela exploração de forma
acentuada.
Nós acreditamos que o Brasil
é diferente. E é diferente. O Brasil, tomado como um todo, é um País cuja
miscigenação já alcançou índices superiores a qualquer outro ponto do
território universal, especialmente o nosso, Nordeste, Centro-Oeste, no Norte,
são exemplos claros desse fato. Mas isso é pouco. Nós precisamos, inclusive,
reconhecer a força, até mesmo econômica, que representa a sociedade negra
brasileira, como foi reconhecido há pouco tempo, quando foi avaliado o
potencial de consumo dessa sociedade. E se verificou, num estudo feito pela
Universidade de São Paulo, que nós todos vivemos preocupados em produzir para o
Mercosul, quando, internamente, a sociedade negra tem o triplo de consumidores
que pode representar o melhor potencial do Mercosul.
Então, é uma realidade brasileira,
e não podemos ficar, apenas, em tese, em discursos acadêmicos louvando suas
qualidades, e a Prontidão teve essa característica. Não podemos retirar dessa
discussão, e eu sou do partido que preconiza a liberdade - econômica, racial,
política -, mas essa liberdade não tem sentido se ela for apenas uma coisa
abstrata. Nós temos que garantir a todos brasileiros, num regime legítimo de
livre competição, que tenham acesso aos bens de consumo, às novas conquistas da
sociedade contemporânea para que essa não seja apenas ilha de prosperidade para
alguns e desterro para tantos outros.
É, nesse sentido, que
insisti em falar, sem as qualificações dos oradores que me antecederam. Nessa
hora Luiz, eu faço uma homenagem à Prontidão que conheci através de ti e que
continuo a respeitar por saber da importância que ela tem dentro do cenário
sócio-econômico da cidade de Porto Alegre. A todos vocês a minha crença que,
daqui a cinco anos, outros, certamente que não nós, estarão aqui junto com
vocês festejando alegremente o centenário da nossa Associação
Satélite-Prontidão. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Passamos
a palavra ao Sr. Nilo Feijó, que preside o Conselho Deliberativo da Associação
Satélite Prontidão, que representará a Sociedade homenageada.
O SR. NILO
FEIJÓ: Sr.
Presidente, Ver. Isaac Ainhorn, Srs. Vereadores, demais autoridades presentes,
senhoras e senhores. Esse é um dia de expressivo significado para a Associação
Satélite Prontidão, ela que, representada por suas diretorias, vê simbolizado
nesta grande homenagem o carinho e o reconhecimento da Casa do Povo, a Câmara
Municipal de Porto Alegre.
Não sei, Srs. Vereadores, se aquelas famílias que em 1902, início
do século, abraçadas ao ideal de construir uma sociedade que pudesse abrigar a
sua cultura, as suas idéias, um espaço de difusão do lazer e entretenimento,
quando fundaram a Sociedade Satélite Porto-alegrense, tinham em mente que ela
seria tão duradoura, que a sua obra se perpetuaria, chegando aos 95 anos.
Estamos convictos, porém, de
que esta entidade foi construída com bases sólidas, alicerçadas,
principalmente, dentro do rigor dos princípios morais, formação imprescindível
para que os cidadãos e cidadãs daquela época fossem aceitos como sócios, o que
lhe deu a conceituação de sociedade séria e progressista, às vezes confundida
com espírito seletivo, de exclusão e elitista.
Havia grandes dificuldades
naqueles tempos, apenas 14 anos após a libertação dos escravos, quando a
sociedade brasileira procurava, ainda, equacionar os enormes problemas
decorrentes da própria libertação que marginalizou esta comunidade,
transformando-a nos primeiros sem-terra, sem-teto, sem-emprego e sem
absolutamente nada. Pouco depois, esse grupo formado por trabalhadores oriundos
dos mais variados ramos de atividades, conseguiu adquirir um terreno localizado
na Cidade Baixa, onde não chegou a construir a sonhada sede social,
possivelmente enfraquecida com uma dissidência que levou consigo a juventude
ávida de mudanças e de novas filosofias em termos de sociedade.
Nascia, então, em 1925,
fruto dessa separação, a Sociedade Carnavalesca, depois Social, Beneficente e
Cultural Prontidão, que se organizou, cresceu sem, no entanto, por suas
próprias forças ter adquirido uma sede social.
Em 1956, por iniciativa de
Cincinato de Oliveira Filho, do Prontidão, Flávio Correia, remanescente da
Sociedade Satélite-Porto-alegrense, efetuava-se a fusão das duas sociedades e,
com o dinheiro da venda do imóvel da mais antiga, adquiria-se um terreno na Av.
Cel. Aparício Borges nº 288, transformando o nome para Associação Satélite-
Prontidão e, mais adiante, estipulando-se como data de fundação e da primeira
sociedade.
Quero dizer a V. Exas. que
hoje, a Associação Satélite- Prontidão não é ainda física e materialmente uma grande
sociedade, mas mantém como herança as concepções daqueles que iniciaram a sua
história. Possui grandes planos e projetos que descortinam um futuro promissor,
de grandes realizações, pois preocupa-se não só com o entretenimento e o lazer,
mas trata de forma muito profunda as questões da cultura, do esporte, da
educação e da filantropia, o que deu a ela a condição de utilidade pública no
âmbito do Município, por ação desta Câmara e deste Estado.
A Associação, na realidade,
busca a forma e a estrutura de um pólo cultural, voltado ao interesse da nossa
gente e só por este juízo está a merecer uma atenção maior dos poderes
públicos.
Quero concluir agradecendo
indistintamente a todos os Vereadores e, em especial, ao Ver. Paulo Brum, por
lembrar que lá no Bairro da Glória existe uma jóia antiga, que mesmo com o
passar inexorável dos tempos, de uma trajetória de lutas por sua manutenção e
desenvolvimento à custa de muito esforço, expectativas, angústias e até
lágrimas, mantém-se, ainda, com o mesmo brilho e o mesmo valor, merecendo, por
isso mesmo ser preservada e tratada com respeito, justiça e dignidade. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE:
Antes de dar continuidade a presente Sessão, gostaria de dizer que o Presidente
do Conselho, Nilo Feijó, emocionou-nos, quando fez uma reflexão e trouxe um
dado que todos conhecemos. Ele referiu que a Associação Satélite- Prontidão -
eu falava com o Ver. Wilton Araújo e com Edson Cavalcanti - surgiu 15 anos
depois da abolição da escravatura. Como era difícil para um contingente de
excluídos socialmente, praticamente recém saídos da escravidão, organizarem-se
de forma associativa.
O Vice-Presidente, Edson
Cavalcanti, lembrava que com 105 anos existe a Associação Floresta Aurora. Esse
dado é extremamente importante, porque são sociedades que se consolidaram
através dos anos. Todos sabemos que não é fácil uma entidade chegar à condição
de centenária, ainda mais com essas raízes e com essa história. Isso mexe
conosco e faz com que tenha mais significação e expressão esta homenagem que a
Casa, hoje, registra para a história de Porto Alegre, quando comemoramos os 95
anos da Associação Satélite-Prontidão.
Mais uma vez cumprimentamos
o Ver. Paulo Brum e o Ver. Nereu D'Ávila que trabalharam em cima deste assunto,
os Vereadores que fizeram uso da palavra e, neste momento, convido a todos para
que, antes de encerrarmos a presente Sessão, ouçamos de pé a execução do Hino
Rio-Grandense.
(É executado o Hino
Rio-Grandense.)
Agradecemos a presença de
todos e estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.
(Encerra-se a Sessão às
16h31min.)
* * * * *